RIO - Estrela com luz própria, Rita Lee só viraria mesmo a partir do LP “Fruto proibido”, de 1975, dos sucessos “Ovelha negra”, “Agora só falta você” e “Esse tal de rock enrow”. Mas antes desse disco, a cantora dos Mutantes lançou três álbuns solo: “Build up” (1970), “Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida” (1972) e “Atrás do porto tem uma cidade” (1974), que voltam ao mercado em caixa da série Três Tons da Universal Music. Páginas pouco lembradas da história da rainha do rock brasileiro (os dois primeiros LPs, por sinal, foram feitos quando ela ainda integrava a banda), eles, no entanto, ocupam um lugar especial nos corações e ouvidos de cantoras que movimentam a cena do pop-rock-MPB.
— É muito legal observar a Rita, aquela menina linda, roqueira, se aventurando num mercado tão masculino — diz Lia Sophia, revelação do Pará.
— São discos que mesmo depois de tanto tempo de história, são atuais e não perdem sua relevância — acrescenta a mineira Roberta Campos, que diz tê-los descoberto já no final da adolescência, mais tarde do que gostaria.
— Acho que nesse começo de carreira, a Rita flertou audaciosamente com muitos estilos e possibilidades, experimentou de tudo, foi muito corajosa ao explorar uma linguagem muito rica e à frente do seu tempo — analisa a santista Andréia Dias, que faz o show “Precisamos de irmãos” (título de uma das músicas de “Build up”), com releituras do repertório da cantora nos anos 1970 e 1980. — Acredito que essa alquimista atemporal tem, nos seus primeiros discos, o laboratório mágico onde Rita refinou o sumo da sua obra e partiu certa e confiante para o estrelato que sempre almejou. Afinal, já de cara, no primeiro disco, ela canta: “Sucesso, aqui vou eu!”. Quem faria isso hoje?
‘Esfinge indecifrável’
Apreciadora da “fina ironia” desse verso (da canção de mesmo nome), Lia Sophia é fã de “Build up”, disco que resultou de um espetáculo de moda, música e teatro para a empresa Rhodia, e que alterna climas de musical americano dos anos 1950 e de tropicalismo.
— Eu fiquei bem impressionada com a qualidade do repertório. “Calma” (de Arnaldo Baptista, mutante e namorado de Rita na época) é uma das músicas mais lindas que ela já gravou. E é muito forte a imagem da Rita na capa: esfinge indecifrável e ao mesmo tempo de uma grande doçura — considera Lia.
Paulista criada em Salvador e vocalista da extinta banda Penélope, Érika Martins, por sua vez, é uma grande admiradora de “Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida”, um disco quase não solo, já que Rita o gravou com acompanhamento (e canções) dos Mutantes.
— Acho engraçado que os fãs da banda não o coloquem na lista de discos dos Mutantes. Mas é justo que tenha sido creditado como da Rita Lee, porque aquele bom humor e acidez, quem seguiu foi ela. Dali pra frente, pra mim, os Mutantes ficaram enfadonhos, e a Rita floresceu como o maior nome do rock brasileiro. Será que eles imaginaram que aquele seria o “primeiro dia do resto da vida dela”? — pergunta-se Érika.
Já para a gaúcha radicada em Maceió Cris Braun, “Atrás do porto tem uma cidade” (o primeiro solo depois de deixar os Mutantes, feito com a banda Tutti Frutti) “é o melhor disco de todos os tempos de Rita Lee”, por sua “psicodelia, modernidade e atemporalidade”.
— Eram tempos mais leves, onde não havia a patrulha dos politicamente supercorretos — analisa Cris. — “Yo no creo pero”, com ares de rock progressivo, tem um momento instrumental lindo. E “lacinhos cor-de-rosa ficam bem num sapatão” (verso de “De pés no chão”), tem coisa mais delicada de se dizer? Já o “Menino bonito” deve ser recordista no repertório de barzinhos.
Música de abertura de “Atrás do porto...”, “De pés no chão” não só foi regravada pela cantora baiana Marcia Castro como acabou dando título ao seu segundo álbum, do ano passado. Marcia, porém, aprecia não só o “Porto”, mas os outros dois discos de Rita.
— As composições deles têm muito humor e sutilezas. Os temas são excêntricos, e os arranjos propõem muitos ambientes. E tem a Rita Lee intérprete/performática, dando a dramaticidade exata às canções — observa. — Parece que a atitude rock’n’roll se acentuou ao assumir a posição de bandleader. A natureza agridoce de Rita, tão forte nessa fase solo inicial, me encanta.
Rita ontem, hoje e sempre. Desenho de Gabriela Rezende, 14 anos.
— É muito legal observar a Rita, aquela menina linda, roqueira, se aventurando num mercado tão masculino — diz Lia Sophia, revelação do Pará.
— São discos que mesmo depois de tanto tempo de história, são atuais e não perdem sua relevância — acrescenta a mineira Roberta Campos, que diz tê-los descoberto já no final da adolescência, mais tarde do que gostaria.
— Acho que nesse começo de carreira, a Rita flertou audaciosamente com muitos estilos e possibilidades, experimentou de tudo, foi muito corajosa ao explorar uma linguagem muito rica e à frente do seu tempo — analisa a santista Andréia Dias, que faz o show “Precisamos de irmãos” (título de uma das músicas de “Build up”), com releituras do repertório da cantora nos anos 1970 e 1980. — Acredito que essa alquimista atemporal tem, nos seus primeiros discos, o laboratório mágico onde Rita refinou o sumo da sua obra e partiu certa e confiante para o estrelato que sempre almejou. Afinal, já de cara, no primeiro disco, ela canta: “Sucesso, aqui vou eu!”. Quem faria isso hoje?
‘Esfinge indecifrável’
Apreciadora da “fina ironia” desse verso (da canção de mesmo nome), Lia Sophia é fã de “Build up”, disco que resultou de um espetáculo de moda, música e teatro para a empresa Rhodia, e que alterna climas de musical americano dos anos 1950 e de tropicalismo.
— Eu fiquei bem impressionada com a qualidade do repertório. “Calma” (de Arnaldo Baptista, mutante e namorado de Rita na época) é uma das músicas mais lindas que ela já gravou. E é muito forte a imagem da Rita na capa: esfinge indecifrável e ao mesmo tempo de uma grande doçura — considera Lia.
Paulista criada em Salvador e vocalista da extinta banda Penélope, Érika Martins, por sua vez, é uma grande admiradora de “Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida”, um disco quase não solo, já que Rita o gravou com acompanhamento (e canções) dos Mutantes.
— Acho engraçado que os fãs da banda não o coloquem na lista de discos dos Mutantes. Mas é justo que tenha sido creditado como da Rita Lee, porque aquele bom humor e acidez, quem seguiu foi ela. Dali pra frente, pra mim, os Mutantes ficaram enfadonhos, e a Rita floresceu como o maior nome do rock brasileiro. Será que eles imaginaram que aquele seria o “primeiro dia do resto da vida dela”? — pergunta-se Érika.
Já para a gaúcha radicada em Maceió Cris Braun, “Atrás do porto tem uma cidade” (o primeiro solo depois de deixar os Mutantes, feito com a banda Tutti Frutti) “é o melhor disco de todos os tempos de Rita Lee”, por sua “psicodelia, modernidade e atemporalidade”.
— Eram tempos mais leves, onde não havia a patrulha dos politicamente supercorretos — analisa Cris. — “Yo no creo pero”, com ares de rock progressivo, tem um momento instrumental lindo. E “lacinhos cor-de-rosa ficam bem num sapatão” (verso de “De pés no chão”), tem coisa mais delicada de se dizer? Já o “Menino bonito” deve ser recordista no repertório de barzinhos.
Música de abertura de “Atrás do porto...”, “De pés no chão” não só foi regravada pela cantora baiana Marcia Castro como acabou dando título ao seu segundo álbum, do ano passado. Marcia, porém, aprecia não só o “Porto”, mas os outros dois discos de Rita.
— As composições deles têm muito humor e sutilezas. Os temas são excêntricos, e os arranjos propõem muitos ambientes. E tem a Rita Lee intérprete/performática, dando a dramaticidade exata às canções — observa. — Parece que a atitude rock’n’roll se acentuou ao assumir a posição de bandleader. A natureza agridoce de Rita, tão forte nessa fase solo inicial, me encanta.
Nossa Musa Rita Lee é entrevistada pelo Fã Clube: presentão de aniversário!!!
Postado por Norma Lima | Postado em Sem categoria | Postado dia 24-05-2013
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Rita ontem, hoje e sempre. Desenho de Gabriela Rezende, 14 anos.
Surpresa, leenáticos & leemaníacos! Entrevista inédita, exclusiva para o Fã Clube, da nossa Amada Musa, em comemoração de aniversário do nosso Clubinho… Vamos ler, nos deLEEitar e agradecer, mais uma vez, a Ela e por Ela existir.
Fã Clube: 50 anos de carreira com corpinho de 20, heim? Bora lembrar de alguns fatos dos milhares lindos da sua trajetória, amor nosso?
Rita: Norma Lima sempre gentil… corpinho d 20? sim, em cada célula…
Fã Clube: Aos 15 anos, um vestido preto de baile e depois uma bateria… Isso é missão de amor aqui no Planeta Terra, né?
Rita: Ela queria mesmo é aparecer, aquela tolinha.
Fã Clube: Tenho registrado nos meus arquivos fãzísticos que a sua primeira apresentação foi ainda como Danny, com Chester & Ginny, em um aniversário no quarteirão do seu bairro (Vila Mariana - SP). E rolou no mesmo ano da solo feita no Liceu Pasteur, com você e violão, interpretando Tous les garçons, de Françoise Hardy, no ano de 1964. Você lembra disso?
Rita: Me lembro do trio catástrofe Danny Chester and Ginny, os 3 patetas pop d Vila Mariana, o resto vc sabe mais q eu, ou invente como quiser, n vou negar no tribunal.
Fã Clube: Assinar o seu nome como Danny ou Ritta, no início da carreira, era uma tentativa de separar o seu eu artístico do seu mim?
Rita: Achava "Rita" meio brega, sorridente demais, queria algo mais dark… Danny era nome da minha adorada cachorra e nessas eu dancei.
Rita e Danny, no porão da casa da Rua Joaquim Távora.
Fã Clube: Já na sua primeira experiência no cinema, ganhou um papel que ia além da apresentação com Os Mutantes, na cena do filme Amorosas, de 68, pois a sua personagem flerta com a de Paulo José. Você já disse por aí que seu sonho mesmo era ser atriz. Você é uma cantriz, né?
Rita: Costumo dizer q há 50 anos faço papel d cantora.
Fã Clube: Ainda sobre cinema, você e Roberto já fizeram belas trilhas também para o cinema e o teatro. A dupla completa 35 anos de parceria musical, tendo estreado em Babilônia, com Disco Voador. Como foi compor essa canção com ele?
Rita: Um presente extraterrestre, uma parceria das esferas. Eu estava amamentando Beto qdo Rob avistou bem na frente da nossa janela uma luz paradona no céu e me chamou. Aparição inspiradora.
Encarte do álbum Babilônia, 1978, cujas letras das canções e desenhos foram feitos pela Rita.
Fã Clube: Você sempre é lembrada por sua abordagem de temas cujo foco é a independência das mulheres. Esperava que a canção Agora só falta você fosse considerada um hino feminista da década de 70?
Rita: O universo paralelo feminino é fascinante, o mundo na visão das fêmeas é outro planeta, na maluquice da cabeça delas, vc encontra d santas putas a malditas heroínas.
Fã Clube: Participou, uma vez, de uma Exposição, a Pintores de Domingo, na Galeria de Sampa, com seu desenho Bobo da Corte, em 1979, outra vez da Mostra Caderno do Artista, em 1994. É uma desenhista e tanto, não pensa em expor seus desenhos inspirados de novo? O dos Beatles, publicado no álbum Aqui, ali, em qualquer lugar, até hoje deixa a todos de queixo caído…
Rita: Menos, Norma Lima… no desenho sou ainda mais canastrona q na música
Fã Clube: Como foi isso de ter um gol batizado com o seu nome, pelo Casagrande, do seu time do coração, o Corinthians, e marcado aos 41 minutos do segundo tempo?
Rita: Um orgasmo regado a confete e serpentina… na época lança perfume já era proibido e vc sabe q eu sempre fui uma moça d família…
Fã Clube: Em 1985, foi divulgada, no jornal O Globo, a notícia de que fostes a compositora mais censurada do Brasil, desde 1980, com 14 músicas vetadas até então… e depois ainda implicaram com Pega Rapaz, em 87 e não citaram as dos Mutantes… Censura nunca mais, né?
Rita: Pois é, vc deve conhecer o Gui… ele foi até o DOI CODI e ressuscitou uma pá d letras censuradas q eu nem sabia q existiam! Os comentários d dona Solange, da Censura, nos documentos são pérolas da sociedade indignada, hilários…
Fã Clube: Você foi tema ou citada com elogios em textos de grandes nomes, como Caio Fernando Abreu, Arnaldo Jabor, Rubem Braga, Mário Prata, Martha Medeiros, Glauber Rocha e outros. Como se sente com a afirmação de Caio Fernando Abreu, por exemplo, de que a sua obra é tão importante quanto a de Caetano, Gil e Chico para a Cultura Brasileira? E a de Glauber, que te chamava de Cacilda Becker da Nova Era?
Rita: Eles é q são gênios e eu ganho a fama?
Fã Clube: Além de cantar, compor, desenhar, representar, você também escreve. Foram vários textos para a imprensa nestes anos todos, além da série Dr Alex, cuja motivação foi, além de inventar historinhas pra filho dormir, como declarou em uma de suas entrevistas, você também teve e tem a preocupação com a preservação do planeta, bem antes disso virar uma moda, pois faz do Dr Alex um defensor dos bichinhos. Disse que a luta dele incomodava a alguns que nunca quiseram muita liberdade e muita alegria. É isso que a sua obra sempre trouxe para o Brasil, né? Liberdade e alegria.
Rita: Quisera eu q fosse só assim… existe tb meu lado prisioneiro e deprê comum a todo ser humano vivo, mas q n deixa d ser inspirador.
Fã Clube: Pioneira em mostrar beijo gay no clipe Obrigado, não; no selinho trocado na tv com a saudosa e querida Hebe, ambos em 1997 e também no selinho dado em uma fã, por ocasião do show feito no Morro da Urca em 2006, Rio de Janeiro, e mostrado no DVD Biograffiti. Sempre brigando com o establishment, não?
Rita: Esse tal de establishment nunca foi c/ a minha cara, mto patriarcal.
Fã Clube: Como você explica essa tal de Rita Lee chegar a tantos e tantas, nesses 50 anos, conservando os antigos e conquistando novos fãs? Todas as gerações são Lee, pois diariamente leio tweets de jovens, adultos e velhos cantarolando canções do seu mais recente e delicioso álbum Reza, declarando-se a você, afirmando que que querem ser como você amanhã…
Rita: Fãs são filhos gauches, a gratidão por gostarem d mim me deixa sem fôlego… inda bem q volta e meia fujo p/ o twitter conversar c/ eles… twitter é mágica moderna, a melhor companhia p/ um coração solitário feito o meu.
Fã Clube: Apesar de você não ser saudosista, quero que saiba que é uma honra sermos seus fãs e olharmos para a sua trajetória tão digna, bem como contá-la para os novinhos que chegam sempre e sempre, com admiração sincera por você. Muito obrigada é pouco, pela entrevista que tão gentilmente topou dar pelo aniversário do nosso humilde Fã Clube, e por tudo que já fez por nós aqui no Brasil. Quando falei com você pela primeira vez, você usava uma blusa com os dizeres Music saves, de fato, a sua canção nos salvou e salva sempre. We love you.
Rita: Cuide bem dessas crianças do Universo q tanto carinho me dão, diga a elas q vovó Ritinha está preparando uma fornada d musiquinhas novas p/ tomar c/ chá. Bisou to you.
Desenho feito por Ariane Gibim, de 17 anos, da primeira foto que tirei com ELA. Eu com cara de choro e êxtase, e ela, com a blusa Music saves, dizendo: "Não chora, não chora…"
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